Canadá: Moedas Canadenses, “Take a Penny, Leave a Penny”, e outros assuntos aleatórios


Olá leitores do Skooter Blog. Este artigo originalmente seria a segunda parte do artigo sobre compras em supermercados no Canadá. Mas, como sempre, começo a falar de um assunto, abro uma série de parênteses e explicações e acabo em um assunto relacionado, mas totalmente diferente. Então nada mais justo do que renomear o artigo para refletir sobre o que ele realmente fala: as moedas canadenses e o “Take a Penny, Leave a Penny”, que foi a origem de toda a introdução sobre moedas. E o significado dessas frase eu explico depois.

As moedas canadenses tem alguns apelidos pelos quais elas são chamadas na grande maioria das vezes em que algum canadense se refere a elas. A moeda de um cent é chamada penny, a de 5 cents é chamada nickel, a de 10 cents é chamada dime, a de 25 cents é chamada quarter, a de 1 dólar é chamada loonie e a de 2 dólares é chamada toonie. E não, eu não esqueci da moeda de 50 cents. A verdade é que as moedas de 50 cents são muito raras, nunca recebi ou conheci uma delas pessoalmente. Por algum motivo elas são produzidas em quantidade muito menor que as outras e praticamente não circulam. Na foto abaixo você vê algumas das minhas moedas canadenses.

Moedas canadenses. Da esquerda para a direita: pennies, nickels, dimes, quarters, loonies e toonies.

Moedas canadenses. Da esquerda para a direita: pennies, nickels, dimes, quarters, loonies e toonies.

A penny é feita predominantemente de aço e revestida de bronze, da mesma forma que a moeda de 5 centavos de real. Isso confere a ela uma aparência muito bonita quando são novas, porém com pouco tempo de uso elas oxidam e ficam bem feinhas, exatamente o mesmo que acontece com as moedas de 5 centavos de real. Eu mesmo escolhi as pennies mais novinhas para guardar, elas estavam perfeitas, mas um ano depois elas já estavam com vários sinais de oxidação (muitos em forma de digital como pode ser visto na foto), mesmo não tendo sido manuseadas em todo esse tempo. Quanto ao material das outras moedas, nickel, dime, e quarter são revestidas de níquel. A loonie é revestida de bronze (cobre com um pouco de estanho) e a toonie tem um centro de cobre (com um pouco de níquel e alumínio) e um anel de níquel.

Olhando para a foto das moedas imagino as perguntas que possam surgir. Uma delas é: Por que a dime é bem menor que a nickel e até mesmo um pouco menor que a penny? Parece que a razão pra isso é histórica. Primeiramente devemos saber que os diâmetros das pennies, nickels e dimes é igual a das suas equivalentes nos Estados Unidos. Aliás, o apelido dessas moedas nos Estados Unidos é exatamente o mesmo. Nos Estados Unidos, originalmente as pennies eram feitas totalmente de cobre, as nickels feitas totalmente de níquel (como o próprio nome diz) e as dime eram feitas de prata. Seus pesos (e por conseqüência seus diâmetros) foram projetados para que o valor do metal fosse próximo ao valor estampado na moeda. Se fizessem um dime de prata maior que o nickel, o metal valeria mais que 10 cents e poderia levar as pessoas a derreterem tais moedas. Hoje, mesmo com as moedas sendo feitas de aço e terem apenas o revestimento feito com metais preciosos, os diâmetros foram mantidos.

Uma segunda pergunta que pode surgir é: O que é rainha da Inglaterra está fazendo em todas essas moedas? Essa é simples, a rainha Elizabeth II não é apenas rainha da Inglaterra, ela é rainha de vários outros países, inclusive do Canadá. Pouca gente sabe que o Canadá é uma monarquia. Todo mundo sabe que o presidente dos EUA é o Barack Obama, mas quem é que se importa com a política do Canadá? Eles não brigam com ninguém (ficaram de fora na guerra do Iraque, não embargam Cuba, não tem casos de terrorismo, etc.), a moeda deles não é usada em reservas internacionais, eles são mais camaradas que os estados-unidenses com estrangeiros de diversas as nações (incluindo Brasil), quase todo o produto exportado por eles vai para os Estados Unidos. Enfim, ninguém dá a mínima para quem é que manda lá. E convenhamos, a família real não apita muita coisa na prática nem na Inglaterra, nem em lugar nenhum, e serve basicamente para gastar o dinheiro dos plebeus e “fornecer notícias” para tablóides. Dentro do governo democrático parlamentar existente no Canadá, quem realmente exerce o cargo de chefe de estado é o primeiro-ministro, que atualmente é um cara chamado David Lloyd Johnston (é, você nunca ouviu falar dele), mas na minha época era uma mulher chamada Michaëlle Jean. Michaëlle Jean foi a  terceira chefe de estado mulher no Canadá, muito antes de você ouvir falar na Dilma, e a primeira chefe de estado negra no Canadá, muito antes de você ouvir falar no Obama. E mesmo assim você nunca tinha ouvido falar nela. 🙂

Note que os canadenses dão toda uma importância às origens inglesas, e por isso a rainha Elizabeth II tem bastante prestígio por lá, existe até um feriado para ela. É bem diferente do Brasil onde não damos a mínima para os descendentes da família real brasileira. Você conhece uma fulana chamada Paola Maria de Sapieha-Rozanski e Bourbon-Orléans-Bragança? Talvez você até conheça, mas eu só fiquei sabendo que ela existe depois que busquei no Google. E isso porque ela é considerada a mais famosa descendente da família imperial brasileira. E o pior é que não faz muito tempo que gastaram um bom dinheiro para fazer um plebiscito para saber se os brasileiros queriam a volta da monarquia. Na ociasião, a quantidade de pessoas que “votaram no rei”, apesar de ser um percentual ridículo, ainda é vastamente superior a quantidade de parentes do candidato a rei. 🙂

Mas voltando às moedas, no Brasil a moeda de 1 centavo deixou de ser fabricada já há algum tempo (estou certo que você já deve ter notado, mas enfim…). Dentre os motivos estão o seu valor nominal muito baixo e inferior ao custo de produção da mesma. Mas no Canadá as pennies continuam sendo fabricadas e em plena circulação. No Brasil, apesar da moeda de um centavo ter virado raridade, os comerciantes insistem em utilizar preços que não são múltiplos de 5 centavos. Com isso os valores acabam sendo arredondados, nenhum comerciante dá o troco de 1 ou 2 centavos, e clientes arredondam 1 ou 2 centavos para baixo na hora de pagar. Isso deve causar belas inconsistências na hora de fechar os caixas, mas ninguém manda colocarem preços que não são múltiplos de 5 centavos, né amiguinhos? A matemática é sua amiga. No Canadá a situação é diferente, lá o comerciante sempre te devolverá o troco correto incluindo todos os cents. Inclusive, vários estabelecimentos comerciais contam com um dispensador automático de moedas que, conectado à máquina registradora, te devolverá o troco exato. Mas mesmos os caixas manuais te darão o troco correto. E nem tente arredondar cents para baixo na hora de pagar pois você será cobrado.

Algo que notei em quase todos os caixas de estabelecimentos comerciais é a existência de uma bandejinha com a frase “Take a penny, leave a penny” ao alcance dos clientes. Quando um cliente recebe moedas de troco e não as quer, ele pode deixá-las ali. Outro cliente pode pegar moedas da mesma bandejinha e utilizá-las para pagar sua própria compra, para evitar ter de trocar uma moeda/cédula maior ou mesmo para não ter de utilizar suas próprias moedas. O caixa eventualmente pode pegar moedas dali, mas não levando vantagem. Por exemplo: o caixa precisa dar 9 cents de troco para o cliente, em vez de dar um nickel e quatro pennies, ele simplesmente pega um penny da bandejinha e dá um dime para o cliente, evitando ter de pedir um penny para o cliente para facilitar o troco. Aliás, nunca vi comerciante pedir para facilitar o troco por lá, acho que não é uma prática bem vista pelos clientes. Outra situação em que o caixa pode utilizar a bandejinha do “Take a penny, leave a penny” é quando ele está sem moedas. Por exemplo: ele pode pegar 10 pennies e colocar 1 dime no lugar. Enfim, basicamente aquela bandejinha é um dinheiro que pertence a todos os clientes, mas não ao caixa. Apesar do nome “Take a penny, leave a penny”, já vi nickels e dimes nestas bandejinhas. Note que com essa prática o caixa sempre fechará corretamente no final do expediente, nem um cent a mais nem a menos, desde que o funcionário não tenha cometido nenhum erro.

O mais interessante do “Take a penny, leave a penny” é que ele funciona exatamente da maneira que foi descrito. Aparentemente nenhum comerciante desonesto mete a mão na bandejinha quando ela está cheia. E, da mesma forma, os clientes utilizam só o que precisam para pagar, nenhum cliente embolsa as moedas quando ninguém está olhando. É claro que devem haver exceções, mas é minoria. Não imagino um negócio desses funcionando no Brasil. É algo semelhante ao metrô, que lá é chamado de LRT (Light Rail Transit). No LRT você compra seu ticket em máquinas eletrônicas e o carimba com data e hora antes de passar para a área restrita do metrô, para onde as pessoas só devem passar se estiverem com prova de pagamento, ou seja, com o ticket carimbado ou com um bilhete de transfer fornecido pelos motoristas de ônibus (o mesmo ticket vale para metrô ou ônibus e é válido por um determinado período, uma hora e meia se não me engano), podendo fazer quantos transfers quiser dentro desse período. O curioso é que não há catraca para passar para a área restrita, não há fiscal, não há absolutamente nada. O que garante que as pessoas paguem suas passagens corretamente é simplesmente a honestidade dessas pessoas, e obviamente o temor de levar uma bela multa se for pego sem a prova de pagamento, apesar da fiscalização ser pouco freqüente.

Aliás, multas pesadas é o que não falta para ajudar as pessoas a andarem na linha. O povo é educado sim, mas sem dúvida as leis ajudam a controlar quem pensa em ser desonesto. E é bastante comum as cidades terem várias by-laws (que incluem leis municipais ou mesmo distritais) para todo tipo de “mau comportamento”. Foi pego andando no metrô sem pagar? C$110 (dólares canadenses) de multa. Foi pego jogando lixo na rua? Mais de C$ 200 de multa. É claro que há quem se arrisque com as multas, certa vez fui abordado por um cara completamente bêbado perguntando onde havia uma estação do LRT. Para começar, ele já estava quebrando uma lei, pois estava bêbado em local público. Indiquei o caminho, mas duvido que ele tenha comprado ou carimbado o ticket naquele estado. Aliás, nessa “experiência” também descobri que uma forma de saber que seu inglês está bom é conversar com um bêbado na rua e perceber que você consegue compreênde-lo e ele consegue compreender você. 🙂

Algumas máquinas para vender e/ou distribuir jornais.

Algumas máquinas para vender e/ou distribuir jornais.

Está vendo essas “máquinas” de jornal na foto acima? Alguns são gratuitos, outros são pagos. Nos pagos você coloca a moeda e ela libera a abertura da tampa. Você abre, pega UM jornal, e fecha, pois você é um cidadão canadense ou visitante honesto, ou no mínimo você não está afim de descobrir que as leis no Canadá funcionam, certo? E alguém já imaginou o que aconteceria com uma máquina dessas no Brasil?

Mas enfim, vou parando por aqui, senão esse artigo não vai acabar nunca. Já passei por mais um item dos que estavam programados para os artigos sobre os supermercados, que é o do “Take a Penny, Leave a Penny”. No próximo artigo sobre o Canadá, falarei sobre os cartões de supermercado e explicar porque você precisa tê-los. Até lá…

David Lloyd Johnston
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carlitus

Eu preciso parar de ler artigos como esse, senão meu ódio ao modus operandi tupiniquim vai se tornar patológico. Impressionante como parecemos com macacos ao compararmos o modo de vida canadense com o nosso.

Quem sabe um dia eu consiga um visto de trabalho e me arranque daqui.

De mais a mais, ótimo artigo!

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