Playstation 4 (PS4): $400 Obamas versus $4000 Dilmas. A culpa é de quem?


Esta seria a introdução do próximo artigo que vocês verão aqui no Skooter Blog. No meio do caminho notei que já era uma introdução tão grande que já poderia ser um artigo por si só. Então o relato que segue é minha análise dos preços do Playstation 4 nos EUA e no Brasil, ainda que tardia, pois o assunto já foi bastante (mal) debatido. Divirtam-se 🙂

No dia em que o preço do Playstation 4 foi anunciado como sendo de US$ 399,99 nos EUA, eu profeticamente anunciei aos meus amigos do Facebook que no Brasil o custo seria de R$ 4.000,00, dadas às constantes altas do dólar e aos impostos abusivos do governo brasileiro. Alguns acharam que eu estava exagerando. O tempo passou e no final das contas eu acabei acertando em cheio.

Quando o preço de R$ 4.000,00 foi anunciado no Brasil, muitos injustamente foram acusar a Sony. Sim, injustamente! Não adianta me acusar de ser fanboy da Sony, tenho minha cota de produtos Microsoft, tenho meu Super Nintendo, tenho meu Mega Drive, deixei de comprar um PSP da Sony pra comprar um Dingoo. Enfim, marca é o que menos me importa e ficar discutindo qual console/fabricante é melhor é algo que eu deixei de fazer quando ainda era um pré-adolescente. Um certo blogueiro com tendências marxistas/esquerdistas correu culpar a Sony exibindo uma conta com impostos únicos de 60% para maximizar os lucros da Sony. Muita gente acreditou. Mas o fato é que empresas não podem usar a tributação simplificada que nós consumidores temos direito. Empresas pagam diversos impostos, aplicados em cascata, no momento da importação e no momento da venda para os distribuidores. Os distribuidores por sua vez também pagam sua cota de impostos. Os lojistas também. E são tantos impostos e a conta é tão complicada que ninguém nem consegue calcular direito o valor total da mordida do governo. O fato de que nossos impostos são tão complicados que ninguém nem consegue calcular já é um forte indício de que tem algo errado nesse país. E tem mesmo! E além de impostos ainda tem lucros de lojista e distribuidor, preços de transporte que no Brasil é todo rodoviário e caríssimo por conta também de muitos impostos, preços de seguro, que no Brasil é essencial porque a bandidagem está sempre à solta, etc. Some tudo e o valor de R$ 4.000,00 não só fica plausível, fica até barato para o padrão brasileiro de extorsão do contribuinte…

Há quem cogite que a Sony não esteja subsidiando o preço dos consoles como faz nos EUA, onde o console é vendido com prejuízo. Ainda que seja verdade, podemos culpá-los por isso? Primeiro temos que entender o motivo do subsídio nos EUA. A Sony não está fazendo caridade com isso. Fabricantes de console ganham dinheiro com cada jogo vendido. E pra vender jogos é preciso que as pessoas tenham os consoles. Mais que isso: para que as softwarehouses se motivem a fazer jogos para um determinado console é preciso que este console tem uma grande base instalada (potenciais compradores), do contrário elas não se arriscam. E pior ainda: se um console não recebe bons jogos as pessoas também deixam de comprá-lo. Então do ponto de vista do fabricante do console, vale a pena dar um empurrãozinho no início, mesmo que seja tendo prejuízo nas vendas, para criar uma base instalada, incentivar as softwarehouses a fazerem os jogos e depois recuperar o prejuízo através da venda desses jogos. Com o tempo o custo de produção diminui e os fabricantes passam até a ter lucro com a venda do próprio console. Mas um vacilo no primeiro ano desde o lançamento pode ser a diferença entre ter o console de maior sucesso da geração ou amargar um fracasso do tamanho do 32X da Sega. E não faltam exemplos de consoles tecnicamente superiores que perderam a briga por conta do preço ou da falta de jogos em um primeiro momento.

Mas toda essa história de subsídio é muito bonita, funciona muito bem, mas… apenas em países como EUA, Japão, etc. No Brasil a história é outra. Brasileiro compra jogo pirata desde os tempos do Atari 2600, não porque queriam, mas porque havia reserva de mercado (bom, na prática ainda há, com tantos e tão caros impostos). Muitos clones de Atari e seus respectivos cartuchos não eram licenciados. Mas alguém realmente sabia disso? Só hoje eu percebo o quanto era ridículo a CCE hackear os jogos da Activision e outras para colocar seu próprio logotipo. Eu tive um Atari 2600 da Polyvox, licenciado pela Atari, mas nem imaginava que todos aqueles consoles “compatíveis” eram na verdade ilegais perante o mundo civilizado.

Depois vieram os Nintendo não licenciados. Nintendo só apareceu oficialmente no Brasil com a Playtronic, que não durou muito tempo. Sega teve mais presença graças à Tec Toy, mas até a Tec Toy quase quebrou e passou por uma concordata. Eu não tive muitos cartuchos de Master System e Mega Drive, na época só alugava. Do Master System estranhamente nunca vi um jogo pirata na locadora, mas do Mega Drive raros eram os da Tec Toy, a maioria eram aqueles piratas importados via Paraguai.

A Sony ignorou o Brasil com o primeiro Playstation. Mesmo assim ele foi o console mais vendido do Brasil por um bom tempo. E era quase impossível comprá-lo sem o chip que permite executar jogos piratas. Tão raro quanto era encontrar jogos originais. O Playstation 2 também foi um sucesso no Brasil graças à pirataria. Quando chegou a geração do Playstation 3 e do XBox 360, este segundo acabou vendendo mais no Brasil. Adivinhem por que? Sim, a pirataria novamente. O Playstation 3 só começou a vender mais no Brasil quando conseguiram destravá-lo e quando a Microsoft começou a banir de sua rede os donos de XBox 360 desbloqueados. Em resumo, no Brasil a formula de sucesso não é ter uma grande base instalada e bons jogos. No Brasil, a cada geração, ganhava a disputa o console que fosse destravado primeiro. O Master System fez mais sucesso no Brasil que em muitos outros países, mas teria feito ainda mais se não tivesse abundância de clones ilegais de Nintendinho. Playstation 1 no Brasil levou a melhor contra seus concorrentes porque eles usavam cartuchos caros e o Playstation usava CDs comprados baratinho com o camelô mais próximo.

Agora responda honestamente, diante de um histórico desses do Brasil, coloque-se no lugar da Sony e decida se vende o Playstation 4 no Brasil com subsídio. Lembre-se que toda a ideia de vender com subsídio parte do pressuposto que o prejuízo será recuperado posteriormente com venda de jogos. Se amanhã inventarem uma forma de desbloquear o Playstation 4, as vendas de jogos não deve ter grande impacto em países como os EUA. Mas no Brasil é certo que a venda de jogos originais despencará, e provavelmente a própria venda dos consoles será impulsionada, com a certeza de que o cidadão não vai comprar um único jogo depois. Aí o prejuízo se multiplica e jamais será recuperado. Em uma situação dessas só há duas alternativas: não vender o console ou vender sem qualquer subsídio, de preferência até com lucro, pois assim se começarem a piratear os jogos pelo menos não houve prejuízo.

Dito tudo isto, acho que a culpa de o Playstation 4 custar R$ 4.000,00 no Brasil é primeiramente da imensa carga tributária brasileira e em segundo lugar da própria cultura do povo brasileiro de consumir jogos piratas. Considerando que a carga tributária é culpa do governo e que quem elege os governantes é o povo brasileiro, a culpa é mesma toda do povo brasileiro, no qual eu também me incluo, ainda que eu nunca tenha votado nesse partido que aí está há 12 anos no poder. Eles prometeram a reforma tributária e não só não fizeram como também aumentaram bastante a carga tributária existente (vide IOF de 2% para 6,38% em um aumento de mais de 300%).

Mas voltando ao anúncio do Playstation 4 de R$ 4.000,00. Antes mesmo dele ser feito eu já previa que o preço brasileiro seria exorbitante e já havia me decidido a comprá-lo fora do Brasil, tal qual fiz com o Playstation 3. O Playstation 3 eu comprei durante uma viagem aos EUA em 2009, mas para comprar o Playstation 4 eu não tinha nenhuma viagem em vista, então logo pensei na Amazon e na Shipito. Não quis entrar nas pré-vendas, preferi esperar os primeiros reviews e principalmente quis esperar para saber se não haveria nenhuma falha de projeto ou de hardware que fosse exigir um recall. É comum ver muitas unidades com defeito de fabricação no início das vendas de um novo console. O temor não se concretizou. Aconteceram vários relatos de problemas com o Playstation 4, mas aparentemente os problemas atingiram menos de 1% das unidades vendidas, o que parece dentro da “normalidade”, afinal com eletrônicos sempre há risco de encontrar algum defeito, infelizmente.

Por falar em defeitos, a garantia no Brasil de consoles da Sony adquiridos no exterior ainda é algo confuso.  Sony não oferece a garantia amigavelmente, mas há jurisprudência em favor dos consumidores. Se acionada juridicamente a Sony muito provavelmente terá de reparar, trocar ou mesmo reembolsar o consumidor que adquiriu o console no exterior. Mas uma ação no Juizado Especial Cível demora pelo menos alguns meses na melhor das hipóteses. Então quem compra um Playstation 4 no exterior tem que estar ciente que pode ter dificuldades em ter a garantia honrada no Brasil. Como meu Playstation 3 vindo dos EUA está firme e forte até hoje, resolvi arriscar. Menos que 1% é a mesma chance de ganhar uma rifa daquelas com 100 nomes, e eu nunca ganhei. 😛

E enfim chegou o dia do lançamento, mas quem esperava ver o console nas prateleiras das lojas se decepcionou. Todas as unidades em estoque foram vendidas rapidamente ou na própria pré-venda. A Amazon ficou sem estoque próprio. Apenas as lojas no Marketplace ficaram com estoque, mas com preços bem acima do preço de tabela. Não havia grandes esperanças do estoque normalizar antes dos primeiros meses de 2014. Porém às vésperas do Natal o inesperado aconteceu e apareceram alguns Playstation 4 na Amazon. Pensei um pouco e decidi que era hora de comprar o meu. Compra feita em 21/12/2013. No pouco tempo que passei pensando, pesando prós e contras, o primeiro lote se foi e eu acabei entrando em um segundo lote com previsão de envio para apenas depois do Natal, em 26/12. Como eu não tinha qualquer esperança de tê-lo aqui no Brasil antes do Natal não me importei. Poucas horas após a compra recebi um e-mail da Amazon informando que minha compra adiantaria. Em vez de chegar entre 03/01/2014 e 06/01/2014 ela iria chegar entre 27/12/2013 e 02/01/2014. 🙂 É claro que essas datas se referem à chegada do pacote na sede da Shipito.

Quer saber como termina essa história? Não perca o próximo capítulo aqui. É só aqui no Skooter Blog. 😉

0 0 votos
Article Rating
(Visitado 4 vezes, 1 visitas hoje)

Link permanente para este artigo: https://www.skooterblog.com/2014/01/21/playstation-4-ps4-400-obamas-versus-4000-dilmas-a-culpa-e-de-quem/

Inscrever
Notificar sobre
guest

4 Comentários
mais velhos
mais novos mais votados
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários
Anderson

também comprei nessa época pela shipito e está quase chegando na minha cidade

Paulo

Skooter!
Poderia indicar algumas lojas dos eua que enviam consoles para o Brasil?
tanto ps3 quanto ps4

[…] Playstation 4 (PS4): $400 Obamas versus $4000 Dilmas. A culpa é de quem? Mariio128: Gamepad de Super Nintendo (SNES) para PC Buffalo (Super Nintendo Famicom SNES Gamepad for PC (PC) (BUFFALO)) […]

4
0
Gostaríamos de saber o que você pensa, deixe seu comentáriox