Ladrões de CIC do SNES: mais um motivo para não comprar cartucho de Super Nintendo no Brasil


expliquei em artigos anteriores porque eu não compraria um Super Nintendo no Brasil, onde os consoles vem todos mexidos, com componentes trocados, pernas de chips cortadas, etc. por conta da transcodificação para PAL-M e do desbloqueio para funcionar com cartuchos piratas que não tem o CIC (Checking Integrated Circuit), que é o chip que a Nintendo usa tanto no console quanto no cartucho para que cartuchos piratas não funcionem nos consoles. Meu Super Nintendo de infância infelizmente já veio com essas modificações porcas, e foram os defeitos causados por elas que levaram ele à morte.

No início dos anos 90, as locadoras do Brasil eram inundadas de jogos piratas de Super Nintendo, alguns com o CIC, outros sem. Lá pelo fim do ciclo de vida do Super Nintendo, o CIC foi clonado e usado em cartuchos piratas. Mas como explicar os cartuchos piratas que tinham o CIC presente ainda no início da vida do console?

Eu me recordo que os primeiros Super Nintendo que chegaram do Brasil via Paraguai eram ainda bloqueados, e seus donos eventualmente ficavam frustrados porque alguns jogos que alugavam (os que não tinham o CIC) não funcionavam em seus consoles. Mas eles não sabiam exatamente por que. E não tinha como saber ainda na locadora se o cartucho iria funcionar ou não, pois por fora eles não tinham qualquer indicação de ter ou não o CIC.

Posteriormente, os consoles passaram a vir do Paraguai desbloqueados (o meu de infância estava nessa). Os pirateiros, não sei se paraguaios ou brasileiros, cortavam uma trilha da placa do console e soldavam um fio em uma perna do chip, o que permitia que o console executasse tantos jogos piratas quanto originais.

Esse tipo de modificação acabou se mostrando um tiro no pé mais tarde, quanto a Nintendo passou a fazer alguns cartuchos, como o Mario RPG, que verificavam a presença do CIC no console, e não funcionavam nos consoles desbloqueados. Isso levou os pirateiros a acrescentarem chaves no console para ligar e desligar o desbloqueio, conforme o cartucho sendo executado fosse original ou pirata.

Eu acabei adquirindo meus consoles Super Nintendo recentes no eBay, como já relatei em artigos anteriores. Direto dos EUA, eles vieram como de fábrica, livres de qualquer modificação, pois lá esses desbloqueios não eram comuns, e a transcodificação para PAL-M obviamente não era necessária. O PAL-M só foi usado no Brasil, nos EUA o padrão usado era o NTSC.

Mas quando estava testando meu último Super Nintendo na TV CRT, levei o console até o quarto onde fica a TV mas lembrei que havia deixado todos os cartuchos na TV LCD do escritório, onde fiz o unboxing e os primeiros testes. Lá junto com a TV CRT só havia um cartucho, o Super Mario World que veio com meu Super Nintendo de infância, que eu não havia levado para a outra TV pois tinha outra cópia do Super Mario World para testar, a que veio com um dos Super Nintendo que adquiri recentemente.

Quando coloquei o meu Super Mario World de infância no Super Nintendo bloqueado notei que ele não funcionou. Achei estranho, limpei os contatos do cartucho e continuou não funcionando. Logo desconfiei do CIC, será que o meu Super Mario World de infância teve o CIC removido? Tendo o console de infância já vindo desbloqueado, ele funcionava normalmente então eu nunca desconfiei disso antes.

Testei então o cartucho no Analogue Super Nt, que não verifica o CIC do cartucho, e ele funcionou normalmente, o que foi mais um fator para aumentar a suspeita sobre a falta do CIC no cartucho.

Resolvi então abrir o meu cartucho de infância do Super Mario World, algo que eu nunca havia feito antes. Peguei as minhas gamebits e rapidamente abri o cartucho, que é preso apenas pelos parafusos.

E foi assim que eu confirmei minhas suspeita: o CIC estava ausente no meu cartucho do Super Mario World. As pontas dos terminais dele ainda estavam soldadas, indicando que ele foi removido com um alicate de corte ou ferramente semelhante.

Cabe notar que a placa do cartucho tem todos os indicativos de que é original, com os componentes discretos, logotipo da Nintendo com o copyright, ROM, SRAM, bateria, etc. A versão da placa é SHVC-1A1B-05.

E assim o episódio foi ficando bem claro para mim. Os pirateiros safados desbloqueavam o console porcamente e aproveitavam para roubar o CIC do cartucho, afinal o console desbloqueado não faria mais a verificação, e o dono nunca perceberia a mudança. Ou quase nunca, eu percebi… depois de 27 anos!

Apenas para confirmar, abri também o outro Super Mario World. Esse outro cartucho tem a PCB um pouco mais antiga: SHVC-1A1B-04, mas os componentes são exatamente os mesmos, exceto pelo fato de que essa placa está com o CIC intacto.

E o que foi feito com o CIC removido do meu cartucho? Nunca saberei com certeza. Mas aposto que foi usado em algum cartucho pirata, para que o mesmo funcionasse também em consoles bloqueados.

Recentemente abri dois cartuchos piratas que ganhei e um deles possui o CIC. E é curioso notar que juntaram todos os componentes em um chip-on-board, exceto pelo CIC, que continua separado. Mas pelo menos nesse caso o CIC aparentemente é um clone.

PCB do cartucho Kawasaki Superbike Challenge, do Super Nintendo.

PCB do cartucho Kawasaki Superbike Challenge, do Super Nintendo.

Recentemente também li algum relato de alguém que comprou cartuchos de Super Nintendo na AliExpress e recebeu um cartucho com uma plaquinha igual a essa com um CIC original, um tanto surrado, instalado nela. Certamente foi removido de algum cartucho original.

Assim, se eu já havia desistido de comprar consoles no Brasil, agora desisti de comprar cartuchos também. Não só os consoles são todos mexidos, os cartuchos também são! É arriscado pagar caro em um cartucho original no Mercado Livre e depois ter a desagradável surpresa de ver que o CIC dele foi roubado e ele não vai funcionar em um console bloqueado. É lamentável!

O jeito é continuar comprando direto dos EUA no eBay. Pelo menos por lá esse tipo de canalhice deve ser mais raro.

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Vc deve ter lido sobre este CIC em algum fórum na internet provavelmente em ingles, e nesta época nem havia internet, curioso como os técnicos aprendiam como piratear e trocavam as informações, deveria ser algo mais restrito.

E tem uma bateria CR2032, suponho que seja para os savegames, e se vc nunca abriu em tantos anos, esta bateria ainda funcionava?

Iuri Fiedoruk

Que bizarro! Bacana essa história.
Uma vez eu troquei a placa interna de um megaman 4 de NES. O meu era um pirata meio bagunçado (loga da capcom trocado, umas telas de abertura bugadas), os caras da locadora foram num jantar que a turma de colégio fez para levantar fundos para uma excursão, e eles ficaram assediando – passando a mão mesmo – nas minhas colegas.
Minha “vingança” foi pegar o pirata deles – nem original era – e colocar no lugar do meu.
Continuava funcionando em ambos os casos, mas o meu agora parecia mais com o jogo original.

Rafael Lima

Nossa,essa é novidade pra mim. Ainda não peguei cartuchos originais sem o CIC.

Luiz Miguel Gianeli

Excelente artigo, muito bom e esclarecedor. Somente agora, uns 20 anos depois é que vim entender porque o Super Mario RPG não funcionava em meu Super Nintendo… lamentável. Que bom que hoje temos os emuladores e já consegui zerar este grande jogo traduzido em português. Mas na época foi uma grande decepção… Peguei um Snes usado dias atrás, tomara que não seja desses adulterados…

celsoaffini

Brasil ainda deve guardar muitos mistérios em relação a videogame, aqui deu-se um jeito pra todos conseguirem jogar videogames, mas não é nenhuma surpresa, já tinha visto algo sobre o CIC, mas nessa matéria conheci mais ainda. Parabéns pela informação compartilhada.

Douglas Dias

Então, não sei se você abriu algum Snes destravado dessa época.
não é que os paraguaios era ladrões malvados de CIC (até pq uma pilha deles com terminais cortados não serviriam para falsificar outros cartuchos).
antes de descobrirem que bastava levantar o pino 4 do CIC dentro do console para impedir o reset de ser acionado em caso de erro, os “pirateiros” retiravam o CIC de um cartucho original que quase sempre era o Mário World, que já vinha com console e transferiam o chip inteiro para dentro do console fazendo as devidas ligações direto na placa, dai o console sempre teria a checagem evalidação do CIC independente do cartucho conectado.

Helinux

Brazil com z tem corrupção até no Vídeo GAme!!!! kbuloso!!!! Sinceramente eu não sabia e ainda nada sei…bom saber!!!! valeu

Luiz

Exagerado demais. N comprar mais console no brasil pelo pal-m da pra entender, mas cartuchos? Todo mundo pode comprar gamebit hoje (40 paus nas duas pagando caro) e abrir pra ver a situação do chip antes de pagar. Pela internet vc pode pedir fotos do chip pro vendedor ou devolver dentro de 7 dias por arrependimento em casos de compra no mercado livre e shopee. Pensando assim das duas uma: é muita emoção pra um problema que em geral so tem em super mario world ou tem algum tipo de maluquice neurotica mt forte dentro do cranio.
Como diz meu irmão: Môss, se controla!

Lucca

hmm, ten algum jeito de descobrir se é falso sem abrir o snes? eu comprei um snes a uns dias e não sei se é falso.

Bruno justo

Isso talvez se aplicava somente no super Mario world, devido ele vir com o console!

Esses cics do Aliexpress, provavelmente deve ser tudo super Mario world? Mas essa prática de retirar o cic deve ser bem no início do snes,tem muitos cartuchos piratinha com cics falsos!

Então não vejo preocupação de adquirir um jogo de snes original no Brasil.

Agora se for o super Mario Wolf e bom ver os anúncios que mostra as fotos da placa.

Rubens

Bom, meu SNES foi comprado em 1994 via Paraguay, joguei até meados de 2000 quando ficou pra minha irmã, e ela jogou até meados de 2003 quando comprou um GameCube, e depois vários outros consoles. O SNES ficou parado de 2003 até agora, 2022, quase 20 anos dentro de uma caixa de papelão sem ao menos ligar de vez em quando.  Resolvi ligá-lo. Achei estranho ele estar todo amarelado. Deu problema de imagem quadriculada. Fui pesquisar na net sobre como resolver, textos e videos. Descobri ser chip de memória e/ou PPU2 que precisavam ser substituídos. Daí achei seu blog e vários outros sites e canais de YouTube e depois de ler bastante resolvi comprar as chaves Gamebit e abrir o console, e fotografar tudo antes de enviar pra consertar.  O console nunca havia sido aberto por mim, e tampouco foi a alguma assistência, até onde lembro ou sei. Abri. Placa SHVC-CPU-01. Tufos de poeira dentro do console com direito a alguns bichos FOSSILIZADOS no meio dos chips. Limpei tudo com isopropílico. A placa estava até bonita, apesar das gambiarras. Não havia oxidação, nem capacitores vazando. Logo de cara vi as tais modificações feitas pelos pirateiros nos anos 90. Perna do… Ler mais »

Rubens

Voltando aqui depois de alguns meses. Limpei a placa (e o slot) do SNES em bacia ultrassônica. Troquei os capacitores do SNES, reverti pra NTSC, troquei a porta traseira da fonte, comprei a blindagem superior, a qual apliquei um anti-ferrugem e pintei com spray Chemi Color de alta temperatura cor Alumínio Fosco. Passei esse mesmo spray na parte externa do slot de cartuchos, tomando o devido cuidado de tampar o interior do slot e na blindagem da placa de som off-board. Pintei a carcaça com a tinta spray de SNES que vende no site Mercado Livre. Já comprei mais de 10 cartuchos, todos repros novinhos. Originais estão fora de questão, exceto se ainda vendessem novos e por preços de mercado. Comprei também uma caixa de MDF com isopor muito bonita e bem feita que surgiu recentemente no Mercado Livre, do vendedor 1980Criarts. Muito melhor do que as repros de papelão que não tem o berço. Comprei 2 controles 8Bitdo sem fio.  SNES finalmente restaurado, rodando lisinho e pegando cartuchos de primeira! Chegou a hora de trabalhar no segundo console, o GameCube, que mencionei acima que tinha… Cor Azul, nacional da Gradiente, DOL-002, com a saída digital. Não lembro bem o motivo,… Ler mais »

Rubens

Estou de volta. Fui jogar no Picoboot do Gamecube. Durou uns 20 minutos e deu tela preta.Abri o console pra ver o que diabo está acontecendo.  O Gamescare instalou o Picoboot usando fios finíssimos, da espessura de fios de cabelo, que simplesmente arrebentaram no meio (GPU4) e dessoldaram da placa do Raspberry (3,3 V). Tudo quanto é youtuber avisando pra NÃO USAR esses fios finos que o chinês envia junto ao Picoboot, no Github webhdx PicoBoot, na seção “Installation Guide”, é dito pra usar fios de boa qualidade e espessura, 26 ou 28 AWG. Mas o Gamescare ignora isso, e por economia burra, usa o fio chinês finíssimo que arrebenta com facilidade, deixa o cliente com raiva e o perde.  Me foi cobrado o recap (troca de capacitores) e NENHUM capacitor foi substituído, nem mesmo na pequena placa de alimentação que fica no piso do console. Nem as thermal pads foram trocadas, embora tivessem sido cobradas e pagas. A carcaça do videogame e a carenagem externa do cooler, com marcas de ter encostado ferro de solda (derreteu o plástico).  E a sujeira… Meu Deus. Você já abriu a carenagem traseira de um ventilador velho, onde fica o motor? Estava igual.… Ler mais »

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